Esta quinta-feira(31) marca o fim do relacionamento entre Ronaldinho Gaúcho e o Flamengo. O jogador ingressou pela manhã com ação no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) do Rio de Janeiro para deixar o clube e cobrar R$ 40.177.140,00 de indenização por quebra de contrato, já que o clube não vem lhe pagando salários. A sentença favorável ao jogador foi dada pelo juiz substituto da 9ª Vara do Trabalho. A decisão diz ainda que o clube não recolheu o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) de Ronaldinho.
— Ronaldinho teve o contrato rescindido judicialmente, tudo ocorreu tranquilo, em paz, como nós esperávamos — informou, em entrevista na TV, a advogada Gislaine Nunes, contratada pelo jogador.
Por intermédio de nota no site oficial do Flamengo, a presidente Patrícia Amorim demonstrou surpresa com a forma como as coisas se encaminharam: "Sempre tratamos os assuntos relacionados ao Ronaldinho em alto nível e internamente. Não esperávamos uma atitude como essa. Agora, o caso está nas mãos de nosso departamento jurídico, que irá tomar todas as medidas legais para proteger os interesses do Flamengo. O clube é maior do que qualquer pessoa e vai ser assim para sempre", afirmou a dirigente.
Na mesma nota, o vice-presidente jurídico do clube, Rafael De Piro, explicou que existe uma grande diferença entre o valor pedido pelo jogador na Justiça e o montante reconhecido pelo Flamengo. "Esse valor divulgado é absurdo. Vamos nos interar do processo e vamos nos posicionar melhor", declarou.
De Piro aproveitou para dar estocadas no jogador: "Só fica aqui quem quer jogar, quem quer vestir a nossa camisa. Relevamos durante todo esse tempo em que o Ronaldinho esteve aqui seus atos de indisciplina e nunca tivemos uma contrapartida desse ato. Sem dúvida, o Flamengo ficará melhor daqui para a frente", encerrou.
A saída de Ronaldinho deve criar um embate jurídico entre clube e jogador. O Flamengo alega que os salários do atleta estão em dia e reconhece que há dívida sobre os direitos de imagem, que eram pagos pela Traffic e foram assumidos pelo clube desde janeiro deste ano. Ao falar em atos de indisciplina, De Piro dá indícios de qual deve ser sua linha de atuação na Justiça, cobrando de Ronaldinho Gaúcho por descumprimento de contrato.
Tensão ao longo de todo o dia
O ambiente esquentou já na madrugada desta quinta-feira. O vice de futebol, Paulo César Coutinho, revelou, em conversa com torcedores em Teresina, que foi gravada por um deles e parou no You Tube (veja o vídeo abaixo), que o craque tinha sido afastado. Também no Piauí, onde o time enfrenta uma seleção do estado na noite desta quinta, o diretor de futebol, Zinho, disse que Coutinho tinha se precipitado e que qualquer decisão só seria tomada quando a delegação voltase ao Rio de Janeiro.
— Vou ouvir as explicações (do jogador) e em cima disso tomar a decisão. No momento, o Ronaldo é jogador do Flamengo — garantiu Zinho em entrevista coletiva no fim da manhã.
Ronaldinho não foi visto no Flamengo durante toda a semana. Ele não se reapresentou na manhã de terça no Ninho do Urubu, após a folga de segunda, porque tinha sido liberado para acompanhar, em Porto Alegre (RS), o tratamento de saúde da mãe, dona Miguelina. Na quarta ele teve, segundo o clube, liberação para continuar no Sul e por isso não viajou com os companheiros para o Nordeste. Ele teria escutado de Zinho que ficasse à vontade e decidisse quando se sentiria bem para voltar ao trabalho. Mas não entrou mais em contato.
Na conversa com os torcedores, Paulo César Coutinho reclamou da postura do atacante no caso.
— Se ele ligasse: “Coutinho, estou mal de cabeça pelo caso da minha mãe”. Eu iria falar: “Pode segurar a onda”. Agora, não aparecer e não dar nenhuma satisfação?! Acabei de falar com a presidente do Flamengo. Já está afastado. Patricia pediu para se desculpar com o povo do Piauí — afirmou o vice de futebol na conversa registrada em vídeo com um aparelho celular.
Durante o diálogo, Coutinho se referiu ao jogador com um palavrão.
— Quem você acha que vai ganhar? O Flamengo tem 100 anos. O Ronaldinho não joga p... nenhuma.
Depois da repercussão do vídeo, Coutinho voltou atrás. Aos jornalistas, em Teresina, confessou que não havia conversado com a presidente Patrícia Amorim, ao contrário do que dissera aos torcedores.
— Na verdade não tinha falado com ela. Exagerei, errei e peço desculpas à minha presidente. Vamos conversar a respeito e depois tomar uma decisão. Decisão que não cabe a mim, mas à presidente. Eu me sinto à vontade para continuar — disse.
Crise se arrasta há tempos
Desde janeiro deste ano o Flamengo arca sozinho com o pagamento do salário de Ronaldinho. No fim de 2011, insatisfeita com o clube e à espera de uma assinatura de contrato para formalizar a parceria, a Traffic, empresa que bancava mais da metade dos vencimentos do jogador, interrompeu o pagamento da sua parte. O Flamengo quitou o que ficou para trás e assumiu por sua conta dali para frente. Mas não teve recursos para manter o pagamento em dia. O clube diz que deve pouco mais de R$ 2 milhões, mas Assis, irmão e empresário do jogador, costuma afirmar que o valor chega aos R$ 5 milhões.
Paralelo à questão financeira, o baixo nível técnico apresentado pelo jogador em campo foi aumentando a crise e tornando a relação com o clube e a torcida mais difícil. Sem conseguir boas atuações e bastante contestado, Ronaldinho falou em abril pela primeira vez, ainda que veladamente, sobre a possibilidade de ir embora. Na ocasião, disse, após a vitória por 2 a 1 sobre o Vasco que garantiu o time na semifinal da Taça Rio, que esperava sair pela porta da frente. As eliminações na Libertadores e no Campeonato Carioca geraram ainda mais desgaste.
Há dez dias o Flamengo viveu uma situação constrangedora e inusitada com Assis, o irmão e empresário de Ronaldinho. Ele entrou na loja da sede da Gávea e levou 25 camisas oficiais e outros artigos licenciados, num incidente que precisou da interferência do vice-presidente de Finanças do clube, Michel Levy, que intermediou com o fornecedor de material esportivo a liberação do material.
No sábado passado, no empate em 3 a 3 com o Internacional, no Engenhão, Ronaldinho, ao ser substituído pela primeira vez desde que o técnico Joel Santana assumiu o comando do time, em fevereiro, siu de campo debaixo de muitas vaias. Não se manifestou e também não retornou mais ao Flamengo.
Dezessete meses de relacionamento
Ronaldinho Gaúcho chegou à Gávea no início de 2011, após o Flamengo vencer uma disputa com Grêmio e Palmeiras por sua contratação junto ao Milan.
— Agora eu sou Mengão! — bradou Ronaldinho ao microfone na festa para recebê-lo, diante de uma multidão de 20 mil pessoas, com direito a bateria da escola de samba Mangueira e várias celebridades, em 12 de janeiro daquele ano.
No início de 2012, Ronaldinho entrou em atrito com o técnico Vanderlei Luxemburgo, que pedia à direção do clube providências para punir a falta de disciplina do jogador. A essa altura Ronaldinho já vivia uma rotina de dispensas de treinamento, especialmente na parte da manhã. O jogador venceu a queda-de-braço com Luxemburgo, que foi demitido no início de fevereiro.
Joel Santana assumiu o time com discurso conciliador. Mas nem "Papai Joel", conhecido por seu estilo boleiro, amigo-de-jogador, suportou. O técnico dava sinais visíveis de insatisfação com seu camisa 10. Depois de pronunciar que "craque é craque" e que Ronaldinho era intocável, por sua condição de extra-série, o treinador parece ter mudado de ideia ao sacá-lo do jogo contra o Internacional. Naquele momento, mesmo que ninguém ainda soubesse, o gesto de Ronaldinho de camihar para fora das quatro linhas, para dar lugar a Deivid, acabaria se tornando a imagem derradeira de uma relação que começou apoiada num lindo sonho de verão e se transformou em pesadelo.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/flamengo/ronaldinho-rescinde-contrato-com-flamengo-cobra-40-milhoes-5077107#ixzz1wTyxrA30
Nenhum comentário:
Postar um comentário