A ministra da Cultura, Marta Suplicy, vai hoje às obras do estádio Itaquerão, em São Paulo, para lançar o edital de contratação de toda a programação cultural da Copa do Mundo de 2014. O programa, que terá inscrições abertas a partir de amanhã, distribuirá R$ 18,8 milhões e pretende contemplar ao menos 206 projetos culturais. Segundo o ministério, o projeto permitirá a realização de ao menos 1.200 eventos nas 12 cidades-sede da Copa. A programação cultural começará no dia 10 de junho e se estenderá até 15 de julho de 2014.
Com esse edital de programação, Marta pretende atender de forma ampla os setores da cultura nacional — como música, cinema, teatro, artes visuais, gastronomia e museus. Além disso, quer fazer com que o país tenha uma programação ininterrupta e diversificada exatamente no momento em que os olhos de boa parte do mundo (se não ele todo) estarão voltados para cá por conta das chuteiras.
— Queremos dar ao Brasil uma imagem que vá além do samba e do carnaval. Não estamos desprestigiando essas áreas, que são fortes e muito nossas, mas temos que ampliar nossa imagem — defende a ministra. — O Brasil tem outras preciosidades: museus, igrejas, artes plásticas... Temos que mostrar essa diversidade e qualidade. Mostrar que atendemos a todos os gostos e classes: da simplicidade da natureza à mais alta sofisticação das artes.
O anúncio que Marta fará hoje no estádio que sediará a abertura da Copa do Mundo promete, no entanto, causar polêmica entre produtores culturais do país. Muitos deles já classificam como baixa a quantia disponibilizada pelo Ministério da Cultura (MinC). Se o valor fosse dividido de forma igualitária entre as cidades-sede, seriam destinados a cada uma delas menos de R$ 2 milhões para a programação cultural ao longo de 36 dias.
— É fundamental agora que a ministra Marta e o MinC articulem esse edital com os recursos da Lei Rouanet e com as instituições que já estão acostumadas a realizar atividades culturais — diz Eduardo Saron, superintendente do Itaú Cultural. — Esses instrumentos vão precisar dialogar para conseguir aproveitar esse momento único que teremos em 2014.
— Esse valor é ridículo — afirma Júnior Perim, director executivo do Circo Crescer e Viver. — É a demonstração de que os grandes eventos no Brasil não servirão para fomentar a produção e a circulação artística nacional.
Numa comparação com outros eventos culturais pagos recentemente ou programados pelo ministério, o edital da Copa do Mundo aparece em desvantagem. Em 2012, por exemplo, a pasta desembolsou R$ 21,4 milhões no festival Europalia.Brasil, que levou à Bélgica cerca de 130 shows, 90 conferências, 60 apresentações de dança, 40 de teatro e 16 exposições. Para a realização do Ano do Brasil em Portugal, entre setembro de 2012 e junho deste ano, foram R$ 8,4 milhões. Já a Feira do Livro de Frankfurt, que este ano homenageia o Brasil, receberá R$ 18,9 milhões, incluindo uma programação cultural paralela com nove exposições, dez apresentações musicais, cinco peças, um ciclo de leitura, dois shows de dança e cinco projetos de performances, instalações e videoarte.
— Entre os produtores, há uma consciência de que, quando trabalhamos com o governo, os valores são mais apertados, mas só o cachê dos músicos do Ano do Brasil em Portugal foi de R$ 10 mil. E essa quantia, em muitos casos, estava 50% abaixo do praticado no mercado — diz a produtora musical Fabiane Costa.
Numa comparação com o mercado privado, Eduardo Barata, presidente da Associação dos Produtores de Teatro do Rio de Janeiro (APTR), lembra, por exemplo, que o espetáculo “Rock in Rio — o musical”, que inaugurou a Cidade das Artes, no Rio, em fevereiro, teve orçamento de R$ 12 milhões.
— A programação contemplada nesse edital será composta apenas de pequenos e médios produtores. O valor do edital é baixo — afirma.
Objetivo do edital: democratizar o acesso
A ministra alega que a ideia por trás do edital da Copa do Mundo é atingir aqueles que não costumam ter acesso aos recursos culturais.
— O edital é para democratizar o acesso. Para mostrar nossa diversidade — afirma Marta.
Marta teve reuniões com a inglesa Ruth Mackenzie, responsável pela Olímpiada Cultural de Londres 2012. Diz, porém, que seria “muita pretensão” afirmar que o programa cultural da Copa de 2014 seguirá os moldes do que se viu no Reino Unido. Lá as atividades se estenderam por todo o país, duraram quatro anos e consumiram 97 milhões de libras.
Mas a ministra trouxe de lá uma ideia. Está disposta a promover flash mobs:
— Em Londres as convocações pareciam espontâneas, nas redes sociais, mas a Ruth me disse que não eram tão espontâneas assim, que havia uma articulação por trás, coordenada por eles. Vamos reproduzir isso. Achei interessantíssimo.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/minc-lanca-edital-de-188-milhoes-para-programacao-cultural-da-copa-9403449#ixzz2bOKey9jm
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