segunda-feira, 13 de maio de 2013

‘Giovanni Improtta’: José Wilker fala que teve dificuldades para levantar recursos para seu filme

Cena da comédia “Giovanni Improtta”
Durante os quase seis anos em que presidiu a RioFilme, entre 2003 e 2008, José Wilker esteve na inglória função de avaliar quais projetos mereceriam aporte da produtora e distribuidora da prefeitura carioca. Não foram raras as vezes em que foi obrigado a negar apoio financeiro a amigos e colegas de profissão. Ao assumir a direção de “Giovanni Improtta”, que estreia nesta sexta-feira, o ator cearense se viu do outro lado do balcão, correndo atrás de dinheiro e enfrentando a burocracia atribuída aos mecanismos públicos de fomento do setor.

— Passei seis meses visitando empresas, correndo entre Rio, São Paulo e Brasília. Era uma operação de guerra, porque o primeiro contato tem que ser pessoal, caso contrário os executivos se sentem preteridos na negociação. Mas a presença física não garante sucesso, ouvi muito não — conta Wilker, que, aos 67 anos, descobriu que a popularidade não é uma moeda de troca infalível. — Não importa quem você seja ou o tipo de filme que vende. Para um diretor de marketing, o que interessa é saber em que medida o projeto atende aos interesses da empresa dele.

Filme fora do perfil
— Passei seis meses visitando empresas, correndo entre Rio, São Paulo e Brasília. Era uma operação de guerra, porque o primeiro contato tem que ser pessoal, caso contrário os executivos se sentem preteridos na negociação. Mas a presença física não garante sucesso, ouvi muito não — conta Wilker, que, aos 67 anos, descobriu que a popularidade não é uma moeda de troca infalível. — Não importa quem você seja ou o tipo de filme que vende. Para um diretor de marketing, o que interessa é saber em que medida o projeto atende aos interesses da empresa dele.

As rejeições ao longa-metragem, protagonizado pelo próprio Wilker, estiveram, quase sempre, relacionadas ao caráter do personagem-título, extraído do livro “Prendam Giovanni Improtta”, de Aguinaldo Silva, publicado nos anos 1990, e que depois virou personagem da novela “Senhora do destino” (2004), também dele. Na trama, vencedora do prêmio de melhor fotografia (Lauro Escorel) no recém-encerrado Cine PE, ele surge como um contraventor que busca ser aceito na sociedade carioca, mas seus planos são sabotados por seu envolvimento com a polícia, a máfia dos cassinos e o jogo do bicho.

— Alguns executivos, muito educadamente, disseram que nosso filme não se enquadrava no perfil da empresa. Outros falaram abertamente que o personagem exercia atividades ilegais, e isso poderia depor contra a imagem da companhia. Eu tentava convencê-los de que a questão não era bem essa, que o fato de o Giovanni ser um contraventor era acidental no filme, que trata, na verdade, de uma história de amor, sobre o Rio de Janeiro atual. Mas não adiantava — lembra o diretor.

Diante de certas resistências, Wilker se viu incorporando alguns de seus tipos famosos, apelando para o fascínio dos interlocutores diante de uma celebridade da TV. Sem sucesso:

— A gente sabe que vai conseguir alguma coisa logo nos primeiros cinco minutos de conversa. Quando percebia que não ia rolar, seguia o ritual assim mesmo, jogando conversa fora. Eu me divertia tomando o tempo dos caras. O Brasil ainda não percebeu que pode ganhar muito com o patrocínio cultural. Com honrosas exceções, as empresas ainda estão atreladas ao comércio do pequeno varejo. Até hoje, lembro de uma obra-prima de merchandising, em “Blade runner”, bancado pela Coca-Cola: o refrigerante não aparece, só a cor da marca.

Coproduzido pela Sony Pictures e pela Globo Filmes ao custo de R$ 5 milhões, “Giovanni Improtta” acabou ganhando um aporte da RioFilme já na fase de pós-produção. Wilker acredita que uma produção com o tamanho e as ambições de “Giovanni” talvez tivesse menos chances de conseguir suporte durante sua gestão do órgão. Naquela época, ele explica, a distribuidora estava atrelada à Comissão Carioca de Promoção Cultural, que recebia, avaliava e distribuía a verba destinada à cultura entre os diversos braços municipais de fomento da área.

— A Comissão aprovava muitos projetos; não havia grana suficiente para todos, na divisão. O que eu queria, na época, era apostar em um ou dois projetos que poderiam dar retorno à RioFilme, o que viabilizaria novas ideias, e bancá-los inteiramente. Mas não consegui — diz o veterano ator e diretor de teatro, que viu o poder da produtora ser esvaziado ao longo de sua gestão. — Em meus últimos anos lá, trabalhei apenas com verba de custeio. Não tinha dinheiro para investir. Teimei em ficar na RioFilme até a mudança de governo, porque tinha medo de a fecharem.

Wilker afirma que seus dois primeiros anos na RioFilme foram “sensacionais”: dispunha não só de um fundo generoso como também do apoio do governo. De repente, sentiu-se desprestigiado pela administração do então prefeito, Cesar Maia, sensação traduzida em sugestões como a transferência da sede do órgão, nas Casas Casadas, em Laranjeiras, para o prédio da prefeitura, no Centro, e a diminuição do número de empregados de 40 para sete.

— Não sei se a minha inabilidade administrativa contribuiu para isso, mas não descarto o desinteresse oficial — afirma. — Aprendi muito, mas não repetirei jamais minha presença no serviço público. Não tenho esse talento.

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/jose-wilker-fala-das-dificuldades-em-levantar-recursos-para-seu-filme-8363694#ixzz2T8nTdAGU

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