sábado, 2 de junho de 2012

Com 13 mil metros quadrados lixão de ‘Avenida Brasil’ não tem sujeira nem mau cheiro


Fechado na última sexta-feira, o aterro sanitário de Gramacho, no Rio, foi a maior fonte de inspiração para um dos principais cenários de “Avenida Brasil”. Mas enquanto o maior lixão a céu aberto da América Latina acumulava, em seu terreno de 1,3 milhão de metros quadrados, 60 metros de altura e 60 milhões de toneladas de lixo, o da trama das 21h não tem sujeira ou mau cheiro. Nem moscas, ratos e baratas. Numa área de 13 mil metros quadrados — cem vezes menor do que Gramacho —, no Projac, o lixão da TV até que é limpinho.

A base do cenário é feita de todo tipo de entulho de obras. Por cima, foram colocados vários tipos de materiais velhos, como panos e sacolas. Para dar mais veracidade ao que se vê na tela , entram em cena várias quinquilharias, como brinquedos antigos envelhecidos. Como o lugar gigantesco não tem teto, todo cuidado é pouco para evitar que a chuva estrague a obra de arte.

— Tivemos muito cuidado com a escolha do material porque é um cenário usado pelos atores. É um lixo selecionado, não há nada orgânico, justamente para não contaminar o ambiente — explica Alexandre Gomes, o cenógrafo da novela, acrescentando que precisou de “muitos e muitos caminhões de material” para preencher a área.

Antes de chegar ao impressionante resultado final, Alexandre e sua equipe foram a Gramacho conversar com pessoas que viviam ali, num trabalho que começou no meio do ano passado. A fotografia, ele conta, foi feita a partir de referências de artistas plásticos africanos.

— Queríamos buscar esse tom árido que remete ao deserto. Foi estimulante, um grande desafio, cujo resultado ficou bem legal — orgulha-se.

E, ao contrário do que possa parecer, não há efeito especial para que o local permaneça com aquele aspecto imundo.

— Não fazemos nada. É um depósito de lixo cenográfico cheio de entulho que, por si só, tem cara de sujo — conta o cenógrafo.

Segundo Ana Maria Magalhães, a produtora de arte da trama, o objetivo de todos os envolvidos era que o lixão fosse um lugar lúdico, com uma luz diferente.

— Queríamos tornar aquilo possível de existir para que as crianças ficassem ali, pessoas em geral. O nosso depósito é bonito, acho que podemos dizer isso. Aquelas casas são de sonho — diz ela, revelando que levou seis meses enchendo saquinhos de lixo que não fossem orgânicos.

Mas, por ser um cenário vivo, com muita movimentação e um número de figurantes que varia de acordo com as cenas, a atenção dos profissionais precisa ser redobrada. Durante as gravações — que costumam acontecer duas vezes por semana —, há sempre alguém da produção de olho para que a sucata permaneça intacta e arrumada. E os itens que compõem a área não foram simplesmente garimpados e jogados ali. Numa das partes, há um cisne, resquício de um pedalinho antigo. Avista-se também um carro supostamente abandonado. Os objetos cortantes e os pregos foram todos tirados por uma boa limpeza. E, por mais que se pareçam com velharias, muitas tralhas são pura arte confeccionadas manualmente por artistas que trabalham com lixo reciclado. A casa de Lucinda (Vera Holtz), por exemplo, é feita de latinhas e garrafas pet. A cortina vem de jornais velhos.
— Também encomendei luminárias feitas de garrafas pet. E usamos muitas coisas do próprio acervo da Globo. Quando tudo ficou pronto, fiquei emocionada — lembra Ana Maria.

Diante de tamanha realidade fictícia, coube à figurinista Marie Salles deixar os figurantes com aquela cara de “Cascão”. Além de visitar Gramacho, onde conversou com pessoas e tirou fotos, Marie pesquisou em livros e documentários como “Estamira” e “Lixo extraordinário”. Com o conceito em mente, ela optou por lançar mão de roupas garimpadas em brechós e no acervo da emissora. No total, há cerca de mil peças reservadas para o núcleo do lixão. Para envelhecê-las ainda mais, são lavadas e tingidas com uma base de tinta cinza.

— Nas minhas idas a Gramacho, percebi que eles usam tudo o que acham no lixo. As mulheres tinham um brinco de cada par, e as meias também eram de pares trocados — observa ela.

O estilo de Lucinda merece atenção especial.

— Como ela vive ali por opção, usa cores vibrantes. E o conceito da personagem é que tudo o que ela tem, teoricamente, pegou no lixo — analisa Marie.

Outro personagem marcante deste núcleo da novela é Nilo, vivido por José de Abreu. Segundo o ator, o ambiente foi um dos maiores desafios enfrentados pela cenografia:

— Não é uma cidade cenográfica qualquer. É insólito. Poderia ficar feio e ficou bonito. Gravar é difícil por causa do sol, refletido pelo entulho, e por termos que andar naquela terra disforme. E são muitos figurantes, muitas crianças para a gente organizar. Há também uma preocupação com o horário da novela, já que ela é exibida quando as pessoas estão jantando. O lixo tinha que ser palatável e não despertar nojo.

A caracterização ficou a cargo de Gil Santos que recorreu a personagens da vida real para se inspirar. Ele revela que os cabelos, como o de Lucinda, ganharam um tom amarelado, típico de quem lava os fios apenas com sabão de coco e, muitas vezes, só com água mesmo. Já para conseguir o efeitos dos dentes escuros, como os de Nilo, foi usado um esmalte especial marrom.

— Como Lucinda mora com crianças, não quisemos que tivesse um aspecto tão desleixado. Já o visual do Nilo é mais feio, o cabelo é desgrenhado. E a barba não é postiça, é dele mesmo — diz o caracterizador.

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/revista-da-tv/com-13-mil-metros-quadrados-lixao-de-avenida-brasil-nao-tem-sujeira-nem-mau-cheiro-5094372#ixzz1weC23t1q 


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