segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Grávida que come demais tem filho que vive com fome


Durante a gravidez, o bebê e a mãe constroem uma relação bem estreita. O feto cresce semana após semana e precisa dos nutrientes que a gestante ingere para que seu desenvolvimento ocorra sem percalços. Mas as mamães de primeira, segunda e outras viagens precisam dosar a quantidade e a qualidade do que consomem à mesa nessa jornada de nove meses. “Há cada vez mais evidências de que tanto carências quanto excessos alimentares durante a gestação são danosos à saúde infantil”, diz a pediatra e nutróloga Fabíola Suano, de São Paulo.


Quando a gestante abusa das garfadas e engorda acima do limite ideal, pode, sem perceber, patrocinar a obesidade no filho que carrega no ventre. “Mulheres que ganham quilos além da conta na gravidez geram bebês com maior volume de massa gorda”, diz Fabíola. Para desvendar o que deixa a garotada fofa demais, pesquisadores da Universidade de Adelaide, na Austrália, dividiram ratas prenhas em dois grupos: um alimentado com ração convencional e outro com ração à base de gordura e açúcar. Eles constataram que os filhotes da segunda ninhada, assim como as mães, preferiam comidas gordurosas. A explicação pode estar no cérebro, já que esses roedores apresentaram níveis maiores de receptores de dopamina, o neurotransmissor do prazer.


A atuação dessa substância é fundamental quando a criança deixa de mamar. “Para que entenda que precisa se alimentar, o bebê recebe estímulos cerebrais”, explica o neurocientista Renato Sabbatini, da Universidade Estadual de Campinas, no interior paulista. “E esse é o papel da dopamina, que faz parte do sistema de recompensa e é produzida, entre outras situações, quando ingerimos lipídios e açúcar.” Em quem come muita gordura, porém, a dopamina não trabalha direito. “A obesidade está relacionada a uma incapacidade natural de perceber os efeitos prazerosos do sistema de recompensa”, diz o neurocientista Ivan de Araújo, da Universidade Yale, nos Estados Unidos. Logo, se o pequeno nasce com mais receptores de dopamina, maior será sua necessidade de ingerir fontes do nutriente até conseguir se satisfazer.


Mas a influência da dieta da grávida no futuro do filho vai além do sistema de recompensa cerebral. Também usando ratos, cientistas da Universidade de São Paulo revelaram outro risco associado a maus hábitos alimentares na gestação. Dessa vez, o alvo foi a quantidade de sal ingerida no período de espera. Eles notaram que as pitadas a mais do condimento contribuíam para a ocorrência de hipertensão quando os filhotes se tornavam adultos. “O aumento da pressão arterial, no caso, é uma característica epigenética, ou seja, que passa da mãe para o filho sem alterar seu DNA”, explica o clínicogeral Joel Cláudio Heimann, líder da investigação feita na USP.


O time de Heimann ainda verificou que, por sua vez, sal de menos no prato da grávida pode causar resistência à insulina, quando esse hormônio não dá conta de botar o açúcar para dentro das células. “Não esclarecemos por que isso acontece, mas uma das explicações é que, nessas condições, o fluxo de sangue diminui nos tecidos, prejudicando o trabalho da insulina”, diz o pesquisador.


Como o trabalho foi realizado só com animais, ainda é preciso averiguar se esses efeitos seriam semelhantes em seres humanos — o que não é improvável. “Ambos são mamíferos e têm tecidos e sistemas parecidos.” A dose de sal indicada pela Organização Mundial da Saúde é de 5 gramas por dia — esse valor é o mesmo para gestantes. “Porém, no fim da gravidez, recomendamos reduzir as pitadas para evitar retenção de líquidos”, ensina a nutricionista Mariana Del Bosco, da Associação para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica.

Ururau

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