domingo, 10 de fevereiro de 2013

Carnaval 2013: A difícil tarefa de ser jurado de escola de samba

Desfile do Porto da Pedra em 2012: “agremiação não conseguiu retratar o enredo”, justificou o jurado Bruno Chateaubriand sua nota 9,6 para Alegorias e Adereços
A regra é clara: no desfile das escolas de samba do Grupo Especial, qualquer nota menor que 10 (“Dez! Nota dez!”) tem que ser, obrigatoriamente, justificada. O mandamento, escrito no “Manual do julgador” — o livro distribuído aos jurados pela Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) —, ainda lembra que eles “devem se isentar de emoções e de paixões, exercendo, sempre, um distanciamento crítico”.

Foi baseado nesse preceito que o cenografista Marcelo Marques, de 43 anos, deu nota 9,4 às fantasias da Grande Rio no carnaval passado. Responsável por montar o cenário da peça “Sassaricando” e da ópera “Nabuco”, Marques — que é jurado há quatro anos — escreveu que as vestimentas da escola estavam “em absoluta confusão, sem nenhuma possibilidade de leitura, com todos os símbolos confusos”. A Grande Rio ficou em quinto lugar.

— É muita responsabilidade ser jurado — explica ele, que neste ano migrou para o julgamento de adereços. — Você se vê numa posição de avaliar um trabalho hercúleo, feito por milhares de pessoas que nem ganham muito bem. Tem muito afeto, muita coisa séria envolvida.

Além de Marques, a Liesa convida, a cada carnaval, 39 outros jurados para avaliar o desfile do Grupo Especial. O grupo, heterogêneo, é formado por arquitetos, publicitários, dramaturgos, cenografistas, cantoras, médicos, dentistas, literatos e Bruno Chateaubriand, que não se encaixa em nenhuma da categorias acima. Cada jurado recebe pró-labore de R$ 3 mil, CD com detalhes do enredo das escolas e manual em que se pede para que não leve em conta “a inclusão de qualquer tipo de merchandising (explícito ou implícito) em sambas-enredo”. A nota mínima é 9. As justificativas são veiculadas no site da Liesa algumas semanas após o Desfile das Campeãs.

É assim que se pode constatar o que o músico Bruno Rodrigues achou a respeito do samba-enredo sobre iogurte, levado à Avenida no ano passado pela Porto da Pedra. “No seu contexto geral não é tão trágico”, escreveu, não sem apontar, porém, que a letra era “muito simples, sem tratamento poético”.

Tito Canha, um dos mais antigos — e rígidos — no juri, foi adepto da linha dura. Sobre a dupla de mestre-sala e porta-bandeira da Renascer, escreveu: “Uma exibição marcada pela timidez. Pouco evoluíram e, quando o fizeram, guardaram considerável distância um do outro.” Completou de forma irônica: “Um fundamento básico do quesito não ficou evidente: o início, o meio e o fim do bailado.”

Já o engenheiro Paulo César Morato preferiu adotar tom filosófico. Ao analisar a comissão de frente da mesma escola — que homenageava o pintor Romero Britto — escreveu: “As cenas se sucedem em estado latente. O uso de cores como recurso metalinguístico não funciona a contento, resultando numa pueril justaposição de elementos.” Deu 9,7.

— Às vezes, pela riqueza de detalhes, o público não tem uma assimilação imediata. Ele não leu as páginas de justificativa de cada samba, como somos obrigados a fazer. Quando isso acontece, aponto os erros — diz a cantora Alice Serrano, de 51 anos, jurada há sete, que usou a palavra “tímida” para descrever a letra do samba-enredo da Imperatriz Leopoldinense no ano passado. — A dificuldade maior é não ser injusta. Procuro não olhar para o nome da escola — diz.

Marcelo Marques também diz ignorar qualquer pressão externa, principalmente no que diz respeito aos patronos das escolas:

— Juro que sempre fiz um esforço para nunca saber de histórias de bicheiros. E o presidente da Liesa é de uma lisura absoluta.

Embora a lista de jurados pouco tenha mudado nos últimos anos, polêmicas são corriqueiras. Em 2006, a Mangueira ficou em quarto lugar após ter o desfile taxado de “monótono” pelo jurado Lula Vieira (Vieira tirou cinco décimos da escola, exatamente o que a separou do primeiro posto, ocupado pela Imperatriz). Em 1999, Carlos Pousa deu 7,5 (nota até então permitida, mas ainda assim baixíssima) para a Mocidade após constatar um buraco na evolução de suas alas.

Dez anos antes, o prejudicado havia sido o carnavalesco Joãosinho Trinta. À frente da Beija-Flor, Trinta sentira-se prejudicado pelo voto de três jurados (que fizera a escola, mesmo num desfile tido como esplendoroso, contentar-se com a segunda posição).

Resolveu vingar-se, dentro das regras do carnaval. No Desfile das Campeãs, levou três bonecos vestidos de Judas.

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/carnaval-2013/a-dificil-tarefa-de-ser-jurado-de-escola-de-samba-7537180#ixzz2KWnTlINm

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...